Forró da Solidão

A manhã cinzenta invadiu meu peito e um forró tirou para dançar minhas lágrimas. A noite seria de sanfona, triângulo, zabumba e imensidão.

Pingos de luzes nos cantos de uma sala aberta e larga. Chão de estrelas pintadas. Gente dançando no silêncio do som surdo de uma banda de três.

Eu sozinho, num canto esquecido de mim.

A todo mundo eu dou psiu

Perguntando por meu bem

Tendo o coração vazio

Vivo assim a dar psiu

Sabiá vem cá também

Minha tristeza está com som de Nordeste. Arrombando minhas vilas. Meu sertão sem nome. Enche os rios da minha seca. E rio, rio de mim e da minha sorte.

A pista lotada. Silente a pesar da banda e da dança. Eu me pego da mão. Sozinho, vou dançar ao som da banda sem fim. E ninguém me vê chorar porque a sanfona chora mais alto que eu.

Só trazia a coragem e a cara

Viajando em pau de arara

Eu penei

Mais aqui cheguei

Daí, a morena tira eu para bailar, e mando meu corpo sem eu. Assim sem mim, eu danço melhor. Ela que manda na dança e quem decide como vou dançar.

A morena não quer parar. Nem ela, nem eu.

E esse teu suor sargado

É gostoso tem sabor

Pois o teu corpo suado

Com esse cheiro de fulô

Tem um gosto temperado

dos temperos do amor.

Assim é: madrugada alta, a pista aberta, um céu de gente, a banda infinita, sanfona maldita, zambumba do meu bem, a dança da solidão, forró do adeus.

Mas forró mesmo, não tem fim. A morena se despede da manhã, caminhando sem olhar para trás, e meu corpo sem mim se entristece e eu aqui.

Assim ia, eu no meu canto sem mim. A banda tocando para ninguém. A pista sem estrelas. A manhã sem sóis. O Nordeste na seca. A tristeza sem ter fim.

Assim era. Assim foi…

 

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